quarta-feira, abril 26, 2006
Entre sogras e norasData: 25/04/2006Por: Márcia Atik

No mês de abril, precisamente no dia 28, comemora-se o Dia da Sogra. Sem entrar no mérito da questão, dia disso ou daquilo, podemos aproveitar a data para refletir. De modo geral, a mídia traz a discussão para perto de nós. Aliás, a discussão não, pois em relação ao dia da sogra o que se ouve são piadas e histórias escabrosas. E lá vamos nós mais uma vez reforçar o dito popular que sogra rima com cobra!

Poderíamos também falar das noras e genros que, contagiados pela mítica desse papel, já vêem essa parente ´totalmente contaminada´, mas a proposta é falar das sogras. Então vamos lá.

Na contramão de tudo isso, acho importante fazer uma releitura desse parentesco muito mais de uma relação entre a experiência e a iniciação, permeada de sentimentos inconscientes de perda, competição, desvalia, questionamentos existenciais com contornos, às vezes, até dramáticos.

Sem dúvida, a sogra deve participar para integrar e colaborar. O grande perigo é que essa participação seja confundida com intromissão, na medida em que obviamente a sogra conhece mais as armadilhas da vida e se sente capacitada para impedir ´os erros´ dos mais jovens, tirando deles a possibilidade de acertar e errar por seus próprios mecanismos. O que convenhamos, pode ser pratico, mas não acrescenta na experiência de construir sua própria história o que cada um de nós individualmente tem necessidade e os casais também.

Ouvi esses dias uma história que me impressionou muito e foi o que me impulsionou a escrever este artigo. Uma senhora bem articulada, coerente e consciente comentava que seu genro em cuja casa ela morava tinha por hábito levar café na cama para sua esposa - no caso em questão , sua filha.

Tal atitude revestia o genro de um valor imensurável: ela dizia que era o melhor do mundo, modelo de marido para toda mulher, o genro dos sonhos de toda sogra.

Essa mesma senhora ficou espantada com sua própria atitude e sentimento quando foi passar um fim de semana na casa do filho, que morava em outra cidade. Ela o surpreendeu com aquela mesma atitude valorizada por ela, de servir o café na cama à esposa.

Curiosamente, ao invés de orgulho ou satisfação, ela sentiu uma pontada no coração que quase a fez sufocar.

A partir daí, poderíamos entrar na história da discussão de gêneros – feminino e masculino - educação de filhos homens e de filhas mulheres.

Mas o que vale a pena é perceber o quanto essa relação da sogra com seus genros e noras às vezes saem do controle racional e batem numa emoção cega, inexplicável até para quem a sente.

Então, para dar corpo à emoção, reparamos e potencializamos atitudes, fatos ou mesmo fantasias que corroboram o ´sentimento inexplicável´: aí está pronta a crise. É um tal de ´ela me disse´, ´ela me olhou´, ´ela não telefonou´, ´ela gastou´ e as inúmeras histórias rolam num boca a boca sem volta. Tudo isso aliado a uma grande dificuldade para impor limites dentro da família, o que acaba também desgastando a relação.

Manter a privacidade em relação à sogra ou qualquer outra pessoa, inclusive aos filhos, é um exercício que o casal deve fazer conjuntamente, percebendo os vários aspectos envolvidos; ficando atento às particularidades de cada situação e não se prendendo a valores simbólicos daquele papel, de sogra, nora ou genro.

O casal deve buscar sempre o espaço para sua intimidade, mesmo que more junto com a sogra. Esse exercício é possível, impondo limites e criando situações com criatividade.

Por exemplo: se a situação obriga a conviver com uma pessoa chata e chantagista emocional, veja como ela se comporta com os outros. Às vezes não é uma questão pessoal. Isso ajuda a desmistificar uma causa pessoal e impingir a chatice àquela pessoa e não a relação em si, como ocorre em outros tipos de relacionamentos sociais e profissionais.

Vale lembrar que essa busca pode ser altamente enriquecedora na relação e não um peso.

Nesse momento de globalização, erroneamente colocamos as relações afetivas e familiares no mesmo ´saco de gatos´ que as outras relações. Porém, é importante dar espaço à troca familiar, desde que cada um tenha ciência de seu papel nessa relação.

A vida não se resume às relações familiares. É importante ter objetivos pessoais, ideais pessoais realistas, independente das obrigações familiares.

Cultivar pequenos prazeres e a vida com senso de humor, sair do modelo ´da norinha que rouba o meu filho e ainda por cima não cuida bem dele´, ´da megera que pensa que o filhinho marmanjo não vive sem ela´ ou que ´a filhinha doce e romântica é frágil e indefesa e está nas mãos daquele brutamontes...´.

A participação das sogras na estrutura familiar é importante sim, com apoio, colo e compreensão e não como uma competição para ver quem tem mais poder.

Vale ressaltar também que toda essa relação é permeada pela inveja do momento que o outro vive, pois geralmente pais e filhos adultos vivem por ordem cronológica momentos diferentes, então, só por isso a disputa perde a graça.

O ideal é que os limites sejam colocados naturalmente desde que cada um viva e deixe o outro viver. Caso seja necessário vale ter uma conversa esclarecedora fazendo um contrato de boa convivência. Relações felizes têm por base a capacidade de negociar, transigir e evitar papéis rígidos.

Pode-se ainda buscar ajuda caso se sinta impotente para enxergar uma saída. O importante é resolver o problema.

Enfim, a busca pelo entendimento e integração deve ser prioridade, sob pena de se carregar um fardo que, ao decorrer da vida, pode se tornar um vírus destrutivo da relação a dois, ao cultivar mágoas e frustrações, pois afinal a sogra é sempre a mãe de um dos dois envolvidos.
posted by Patrícia C. Makiyama @ 2:10 PM  
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